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Chalumeaux, Soprano
Otto
Steinkopf é um artista conhecido por tentar manter os seus instrumentos
históricos o mais fieis possível ao original antigo. Por essa razão escolhemos
uma peça deste ilustre fabricante para apresentar o instrumento.
Outros conhecidos fabricantes de instrumentos de sopro que se dedicam à produção
deste antigo percussor do clarinete, são os Srs. Herman Moeck, Peter van der
Poel, Andreas Schöni, R. Tutz, e Guntram Wolf.
Outros como Hahl e Kunath, trabalham em adaptações mais modernas do chalumeau.
Quem se deu ao trabalho de ler as restantes páginas deste trabalho, terá já
encontrado um parente mais artesanal deste ilustre aerofone, manufacturado pelo
havaiano Walt Wittman.
De acordo com o “Museum Musicum (1732)”, de Majer, o chalumeau era construído em
quatro tamanhos/registos Soprano, alto, tenor, e baixo.
É
razoável pensar-se que os primeiros 3 andaríam à volta das chaves de F4, C4 e F3
(em notação científica). O baixo tería provavelmente sido em C3.
As provas históricas são poucas e conhecem-se poucos instrumentos originais. Por
exemplo: foram encontrados dois instrumentos identificados como chalumeau, mas
num registo mais grave, que parecem ser desconhecidos para Majer.
Or outro lado (ou talvez por isto mesmo), Moeck e Schöni chamam aos 3 primeiros:
sopranino, soprano, e alto, e fazem outros afina dos em C3 a que chamam tenor.
O
chalumeau, tal como o clarinete, tem um canal mais ou menos cilíndrico e um
bocal com uma palheta simples. Esta característica faz com que este instrumento,
tal como o clarinete, entre em falsete 12 tons acima, ou seja, uma oitava mais
uma quinta justa (por oposição às flautas que entram em falsete com a diferença
de uma oitava.
Contudo, como o chalumeau não tem um furo de mudança de registo, era
habitualmente usado apenas no seu registo fundamental (uma amplitude harmónica
de uma oitava mais uma quinta justa).
O chalumeau soprano teria 8 buracos para a melodia (um ou dois com dois buracos
dobrados, para produzir meios tons) para produzir as notas F4, G4, A4, Bb4, C5,
D5, E5, F5, e G5 enquanto as duas chaves ampliavam o alcance para cima até A5 e
Bb5.
Os chalumeaux alto e tenor eram construídos de forma semelhante, para produzir
as notas de C4 a F5 com as chaves a ampliarem desde o F3 até ao Bb4.
Dos dois instrumentos mais graves (talvez baixo e sub baixo) , um tem apenas uma
chave (para controlar a nota mais baixa) enquanto que o outro tem, além das
chaves de colo, chaves adicionais e buracos para mudar de tonalidade e ampliar o
alcance uma quinta para baixo.
Existe também o Chalumeau d’Amour. Não é habitual usar-se o vocábulo italiano
“d’amore” quando se fala do chalumeau (não me perguntem porquê porque não sei).
Trata-se de um chalumeau soprano com uma campânula em forma de bolbo (algo
semelhante ao Corne Inglês ou ao Oboé d’amore. Os únicos que se conhecem são em
buxo ou madeira de uma qualquer árvore de fruto, com encaixes decorativos em
corno.
O
chalumeau d’amour tem três chaves: as habituais Lá’ e Sib’, mais uma chave de
polegar que faz o Mi abaixo do Fá habitual.

Podemos dizer que os primeiros chalumeaux de formato diferenciado, surgiram no
período barroco (séc.XVII), constituindo uma espécie híbrida entre as flautas e
as gaitas de cana de palheta simples. Apesar de este ter sido um dos
antepassados do clarinete, continuou a desenvolver-se, a par do clarinete,
durante mais uns 100 anos e conhecem-se muitas peças escritas (orquestrais e de
câmara) para este instrumento.
Contudo, pelas bandas de 1780, o clarinete tinha conquistado o lugar do
chalumeau, devido à maior facilidade de execução e um melhor tempero da escala.
É
habitual atribuir-se a criação do chalumeau e do clarinete a um tal Johann
Christoph Denner, de Nuremberga, embora seja incerto o tipo de contribuição que
terá realmente dado ao desenvolvimento desta gaita. Muito em particular, vários
autores afirmam que o clarinete terá sido desenvolvido pelo seu filho Jacob
Denner.
Dulciano
 
Esquema de vários Dulcianos no tratado Syntagma musicum por Michael Praetorius
(1620).
O
Dulciano (tradução livre do italiano Dulciana), é o ilustre antepassado
renascentista do Fagote. Tal como este último, trata-se de um tubo de madeira
dobrado com uma palheta dupla, ligada ao tubo de madeira por um longo tubo de
metal (tudel). A câmara tubular interior é cónica e o facto de estar dobrada em
dois permite chegar com os dedos aos furos mais próximos da boca do tubo.
O
nome deste instrumento não é fácil de encontrar em português, mas podemos tirar
umas dicas a partir do nome que lhe dão em outras línguas: “curtal”, em inglês,
“dulzian” em alemão, “bassoon” em americano (sim senhor, americano não é
inglês), “bajón” em castelhano, “douçaine” em francês, “dulciaan” en holandês.
Este
foi um instrumento muito popular em toccatas religiosas e seculars entre 1550 e
1700, mas continuou a ser usado com regularidade até finais do século XIX,
quando foi ultrapassado pelo Fagote e seu complexo sistema de chaves.
É
usualmente produzido a partir de uma única peça de Ácer, com um furo cónico cujo
exterior é depois aplainado até à sua forma final. Para lhe dar um som mais
doce, é por vezes surdinado (há instrumentos que já são construídos assim e em
que não se pode tirar a surdina), ou revestidos em pele para abafar as vibrações
de menor frequência (baixos).
O
Dulciano existe em vários tamanhos e variants. O mais comum é em Fá, mas há
tenor (em Dó), alto (em Fá ou Sol) e soprano (em Dó). Também existem alguns
baixos em Dó e contrabaixo (em Fá). Possui habitualmente duas oitavas com as
notas da voz correspondente no meio.
Tal como o oboé ou a tarota, tem a palheta totalmente exposta. Como esta é
bastante grande, permite ao tocador manipulá-la com os lábios (bocicular seria
mais correcto porque manipular é com as mãos). Isto acrescenta maior capacidade
expressiva ao instrumento.
Um bom artigo sobre a evolução deste instrumento até ao actual fagote, foi
publicado pelo prof. HARY SCHWEIZER, e pode ler-se neste local:
http://www.haryschweizer.com.br/Textos/brevehistoria.htm
Rankett
Este
curioso instrumento, de aspecto tão pouco vulgar, aparece pela primeira vez em
inventários e em pinturas do Séc. XVI, mas o seu nome varia muito, desde Rankett
a Racket, Ragget, Rogetten, etc, etc, etc.
Os primeiros instrumentos possuíam furo cilíndrico e a palheta dupla era
colocada no início do tubo, no topo do instrumento. A partir do séc. XVII,
começaram a utilizar um tubo mais ou menos encaracolado (tudel) para conduzir o
ar até ao tubo que passou a ser cónico. Este tubo, muitas vezes entra pelo lado
do instrumento, porque este possui até 10 furos interligados como um só furo e
pode começar de um lado ou do meio.
Os furos servem para encurtar ou alongar o percurso do ar dentro do instrumento,
tal como acontece num outro vulgar instrumento de palheta.
Claro que existem em vários tamanhos/registos, desde o soprano ao contra-baixo e
a sua principal carcterística e vantagem é ser muito compacto. Se esticássemos o
tubo contido dentro deste cilindro de madeira, o instrumento ficaria comprido
demais e seria muito mau ou impossível de tocar com todas as notas.
A
desvantagem é que os furos não se encontram a subir ou a descer em concordância
com o tom, mas sim num padrão aparentemente ilógico. Isto faz com que o músico
tenha de usar mais raciocínio e menos intuição. A digitação é bastante estranha.
Outra coisa aborrecida é o facto de a condensação e saliva do tocador se
acumular no sifão formado pelo furo em zig-zag. Isso faz com que seja preciso
parar com frequência para sacudir o instrumento de forma a tirar a água dos
tubos.

Para os finais do séc. XVII, um tal J.C.Denner, de Nuremberga, melhorou a
digitação do instrumento acrescentando pequenos tubos salientes na saída de
alguns furos (tetinas), permitindo assim que se trabalhasse nesses furos com as
falanginhas dos dedos, tornando-o assim mais fácil de tocar numa escala muito
mais longa.
Em termos sonoros, é um instrumento interessante para tocar o repertório
renascentista ou barroco, junto com flautas, violas da gamba e com outros
cordofones. Tem um baixo muito suave e agudos doces. O som do instrumento
sozinho é muito bonito e suave. Não há geralmente vantagem sonora em tocar
vários Ranketts juntos.


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