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Taça ZEN
Embora usado primordialmente como enfeite ou “bibelot”, trata-se de um
instrumento de percussão, usado para fins religiosos e convite à meditação Zen.
Tradicional do Tibete, o exemplo aqui mostrado mede uns 15cm de diâmetro.

Um
primo próximo deste ……..fone é a taça falante Zen, que vemos na figura seguinte.
Se girarmos a “colher” dentro desta taça, em movimentos circulares,
friccionando-a de encontro às paredes, a taça produz sons curiosos e variados
que se assemelham a uma expressão linguística arcaica ou transcente.
Caixa
ou Tambor de lamelas.
Trata-se de uma caixa de madeira, oca, onde são cortados entalhes que produzem
lamelas de madeira de várias dimensões e espessuras.
O
exemplo da esquerda (com as figuras de golfinhos) quando percutido com uma ou
duas baquetas de madeira, em diferentes zonas, produz sons diversos (sem
afinação particular).
Já
no exemplo da direita, a caixa produz várias notas:
Mi
e Si em duas diferentes oitavas. 
Sol em duas diferentes oitavas.
Fá# e Lá em duas diferentes oitavas.
Ré
em duas diferentes oitavas.
Este princípio de funcionamento é originário de África
onde se inventaram estes
instrumentos (embora menos elaborados do ponto de vista plástico).
Apresentamos aqui um exemplo mais primitivo em bambu. 
Cajon

O
cajon recebeu o seu nome devido a uma curiosa analogia. É um instrumento
originário da América do Sul e muito em particular da música cubana. Ora, como
sabemos, Cuba sofreu um dos maiores cercos da História. Esteve cercada pela
marinha dos USA durante 50 anos, não permitindo a passagem de ninguém (nem
comida, nem medicamentos, nem ferramentas, nem instrumentos musicais).
A
antiga URSS conseguia furar o bloqueio, mas eram os únicos, de maneira que os
Cubanos aprenderam a recorrer a instrumentos menos ortodoxos.
Na
falta de instrumentos de percussão adequados, começaram a usar as gavetas do
mobiliário para fazer de batuque, acabando por descobrir que tinham um belo som.
Cedo se tornou um instrumento popular e recebeu o nome que lhe era devido
GAVETA, que se diz CAJON, em espanhol (castelhano, se preferirem).
O
Cajon original é mesmo uma gaveta, com tampo de madeira encaixado, mas não
colado (tem de vibrar e produzir ressonâncias aleatórias). Actualmente, por
motivos estéticos, o Cajon parece-se com essa caixa que aqui reproduzimos.
Toca-se da maneira original: sentado nele com as perna abertas e batendo com as
mãos no tampo oposto ao buraco.
Congas
Eis mais um instrumento que dispensa apresentações.
Este conjunto tem uma conga de 25cm de diâmetro e o seu par tem 30cm de
superfície da pele.
Para os menos atentos, podemos explicar que se trata de um barril de madeira, de
paredes muito finas, com um dos topos tapado por uma pele esticada
(habitualmente de ovelha ou cabra). A pele pode ser mais ou menos esticada
(afinação) por meio de parafusos que deslocam a moldura em que a pele está
estendia, fazendo com que esta fique mais ou menos esticada.
Este “esticar” muda o som e a afinação do instrumento (porque ele pode produzir
um tom e por isso, convém afiná-lo de acordo com a música). Os músicos nem
sempre ligam a esse pormenor, mas a diferença nota-se.
Bodhram
Quem der uma voltinha pela net ou pelo Youtube, vai esbarrar neste instrumento
com frequência. Trata-se de um pandeiro tradicional celta. Na sua essência, não
é mais que uma pele grossa, esticada numa armação redonda de madeira. O segredo
da sua popularidade está na forma como é percutido:

- Em posição sentado, pousa-se o Bodhram no joelhos, com a
pele virada para o tocador e segura-se com a mão por dentro da armação. Com a
outra mão, segura-se na baqueta com se fosse um lápis, vira-se a ponta da
baqueta para o peito até que faça um ângulo de 45º com a pele do tambor e
toca-se usando o mesmo movimento que se usa para tocar o cavaquinho ou a viola.
Esta
técnica permite obter ritmos muito variados e permite executar solos muito
rápidos e complicados. Se o tocador segurar a baqueta a 2/3 do seu comprimento,
pode tocar com os dois extremos desta, duplicando assim a quantidade de batidas
possíveis.
Como se trata de um instrumento eminentemente irlandês, os vapores das
destilarias cedo começaram a inspirar os luthiers celtas que introduziram alguns
melhoramentos naquilo que é, “per si” uma morfologia muito singela.
O que haviam eles de inventar: um bodhram afinável.
Com auxílio de um aro interior e algumas hastes metálicas com uma rosca
“sem-fim” extensível, pode fazer-se esticar a pele pelo efeito de aumento de
tamanho da ilharga.
Isto traz também outra vantagem: com a pele bem esticada, o bodhram produz uma
nota perceptível ao ouvido que pode ser alterada fazendo correr 1 ou mais dedos
da mão que segura o instrumento, por dentro do tambor enquanto é percutido pela
outra mão.
Para ver um vídeo demonstrativo dessa coisa, tocada por quem sabe:
Eamon Murray do grupo
“Beoga”.
A Caixa de
Guerra
Este é um instrumento muito conhecido na música tradicional portuguesa, embora
seja por vezes confundida com “caixa” (não de guerra) ou com a “tarola” das
baterias modernas.
A figura da esquerda é uma
tarola.
A figura da direita é a
rapaziada do "Galandum Galundaina" provavelmente em Sabrosa (pela imagem
envolvente e porque vejo o meu amigo Malcolm MacMillan ao fundo) com várias
caixas de guerra penduradas à cinta.
A
“caixa de guerra” é um bimembranofone, que é uma palavra muito feia para
descrever um tambor de duas peles vibrantes. É mais alta que larga (por oposição
com a “caixa” ou a “tarola” que são mais largas que altas).
A
“caixa de guerra” é obrigatoriamente de madeira, as peles são de cabra e as
cordas devem ser de linho, embora o cânhamo seja uma alternativa legítima. Têm 2
ou mais cordas de tripa que passam por cima da pele de baixo da caixa e que
ficam encostadas. Ao percutir a pele da parte superior com as baquetas de
madeira, a pele do lado inferior vibra por simpatia e transmite vibração às
cordas de tripa, produzindo em conjunto, uma ressonância que amplifica o som e o
torna mais saturado. Existe um parafuso para afinar as cordas de tripa.
As peles são montadas num
arco de madeira e colocadas a servir de tampa para o tubo que forma o corpo do
instrumento.
Por cima disto, entra um arco de madeira mais largo que ajusta a pela ao bordo
da caixa e a estica por meio de uma corda em zig-zag. A tensão desta corda
controla a tensão da pele, permitindo assim afinar a caixa de guerra para o tom
que o tocador quiser.
Para se conseguir isso, existem umas argolas de couro de volta da corda que
podem ser movidas para cima e para baixo, esticando ou alargando a corda.
Ainda digna de nota é a existência de um furo, no corpo da caixa (com uns 5 a 8
mm) para deixar que o ar entra ou saia quando a caixa é percutida, evitando que
o ar comprima as peles e torne a vibração menos característica.
É
possível que este furo tenha origem na necessidade de deixar a pele respirar,
bem como a madeira, mas as pessoas habituaram-se ao som da caixa furada e agora
não gostam do som de uma caixa que não tenha essa característica.
No
nosso país, encontram-se muitas caixas de guerra baratas feitas em platex, com
corda de sisal e de dimensões pouco apropriadas. É pena porque a poupança nos
materiais é pequena e não vale a perda de qualidade sonora.

Aqui podemos ver uma caixa de guerra da casa real portuguesa, exposta no museu
dos coches. (à direita)
Actualmente são mais que muitas, as maneiras de tocar a caixa de
guerra. O próprio instrumento tem vários tamanhos para diferentes efeitos e
sonoridades. Podemos por exemplo atentar na caixa de guerra da Mme. Mokka, (à
esquerda), construída pelo meu amigo Carlos Galbán, exemplar muito
mais elegante que a caixa de S. Majestade D. Manuel II.
ADUFE
Existem em vários tamanhos, consoante o som que se pretende obter, o tamanho do
tocador, o tamanho da cabra (cuja pele foi usada para fazer as membranas de
ressonância), ou outras considerações da mais variada natureza.
O
tamanho (neste caso), não importa. O mais vulgar é ter 30 a 40cm de lado.
O
que importa é que deve ser quadrado, deve ter uma armação de madeira (caixilho)
sobre a qual se estende uma pele de cabra de cada lado, formando uma caixa
fechada. É habitual deixar alguns pedaços de madeira ou conchas, ou pedrinhas,
do lado de dentro para fazer chocalhar enquanto se toca o instrumento.
É
um instrumento característico das Beiras e um pouco de Trás-os-Montes e é
habitualmente tocado por mulheres, acompanhando cantigas ou lenga-lengas.
Sobre a sua história, convém realçar que se trata de uma adaptação dos vários
membranofones árabes conhecidos como tambores de armação ou de caixilho, tais
como o Bendhir, muito vulgares no mundo muçulmano.
Um
dos seus irmãos (o pandeiro) ficou-se mais pela Galiza e norte de Portugal onde
também é mais caracteristicamente tocado por mulheres.

Existe, há alguns anos, um grupo de música tradicional, em Portugal, que creio
dever-se em grande parte à iniciativa de Rui Vaz, com o nome de ADUFE e que
eleva o instrumento a estádios nunca antes alcançados.
Deixo aqui um foto do grupo (aqueles quadrados de 2 metros no fundo do palco são
adufes).
Sarronca
A
sarronca é um membranofone muito curioso. Pode ser feito de muitas maneiras:
-
De um cântaro de barro (mais vulgar)
-
De um tronco oco
-
De uma lata velha
-
De um bocado de cano
-
De uma cabaça grossa
-
De um cortiço
Como se faz:
Molha-se bem uma pele de cabra.
No
meio da pele de cabra, amarra-se a ponta de um pau comprido (50cm ou mais). O
pau deve ser fino e o mais liso e direito possível.
Depois, coloca-se a pele, bem esticada, sobre uma das aberturas do corpo
escolhido. Vamos supor que se trata de um cântaro, que é o mais tradicional. O
pau deve ficar virado para fora.
Amarra-se a pele e deixa-se secar (para a pele esticar).
Depois deve passar-se um bocado de cera de abelha no pau para que este não
escorregue facilmente na mão.
Como se pode ver na imagem,
também pode fazer-se com um fio encerado (na vez do pau). Esta variante,
contudo, retira ao instrumento a sua tão apreciada característica fálica.
Como se toca?
Pois toca-se de uma forma curiosíssima: segura-se a sarronca com do braço
esquerdo, com pau virado para a frente e para cima. Humedece-se a mão direita.
Coloca-se a mão direita de volta do pau e fricciona-se o pau para cima e para
baixo num movimento masturbatório.
A
vibração do pau contra a pele de cabra provoca um ronco que combina muito bem
com o gesto do tocador.
Em
virtude destas últimas características, trata-se de um instrumento de elevado
valor humorístico e de grande efeito visual.
As
tréculas

Muito tradicional no folclore da ilha da Madeira, as tréculas têm uma
característica sonora muito particular. O som parece o de um reco-reco, mas
muito mais controlado e com maior expressividade.
Trata-se de uma quantidade de tabuinhas, todas iguais, presas por um arame.
Entre cada duas tabuinhas existe uma ripa pequena, de mesma espessura que todas
as outras tabuinhas, a servir de espaçador.
Pega-se com os polegares, pelas pontas do arame, de cada uma das extremidades do
instrumento e cria-se um movimento oscilante ao gosto do som que quisermos
criar.
Os ovos:
Como se faz (método tradicional):
Rouba-se dois ovos de galinha. Fazem-se dois furos pequenos nos ovos e chupa-se
o interior (cerimónia nutricional muito apreciada noutros tempos) até deixar os
ovos ocos.
Deixa-se secar bem casca (agora vazia) e metem-se lá para dentro pedrinhas
pequenas, que vão produzir som quando agitarmos os ovos. A quantidade e a
natureza das pedrinhas dependem do gosto do tocador.
Tapa-se os buracos e já está. Quando é para serem usados só uma vez nem é
preciso tapar os buracos com nada permanente. Basta tapa-los com os dedos que
seguram nos ovos.
Actualmente, devido à fraca resistência da casca dos ovos de aviário, vendem-se
ovos de plástico para o efeito.
O Brinquinho:

Este é um instrumento totalmente madeirense e quase um ex libris desse “jardim”
plantado em frente de Casablanca.
Descrevê-lo não é fácil, mas as imagens ajudam.
Na
sua essência é uma espécie de guarda-chuva em que a manga exterior é feita de
cana. Por dentro desta corre um pau ou um arame que faz com que a armação abra
e feche quando
andamos com ele para cima e para baixo.
O
som é produzido essencialmente por duas coisas: as castanholas que os bonecos de
madeira têm nas costas e caricas de garrafas de cerveja (na Madeira é
considerado de mau gosto usar caricas de laranjada ou de gasosa para este
efeito).
Muito além do efeito sonoro do brinquinho, este tem um significado de ícone, nos
ranchos folclóricos madeirenses. São feitos pelos artesãos da terra, de
propósito para o seu rancho e incluem o traje apropriado, representando, por
vezes, ofícios emblemáticos da terra.
É
um idiofone muito mais recente do que muitas vezes se pensa. Apareceu junto com
os primeiros ranchos folclóricos, há coisa de 60 anos.


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