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Este é o primeiro CD dos Trovas à Tôa (com acento circunflexo). Um trabalho
inteiramente gravado ao vivo na escadaria da capela de Vilarinho, numa bela
noite em que o público improvisou um bailarico numa instável plataforma
granítica de uns 2x4 metros. Qualquer passo em falso dava direito a uma descida
radical de uns 70 metros com uma inclinação de uns 65 graus, seguida de urgente
viagem em direcção ao Centro Hospitalar Aveiro-Norte com fracturas múltiplas.
Em Cesar, os desportos radicais não são só o Kite-surfing, ou o rafting, ou a
escalada, ou qualquer outra bagatela. Por aqui, conseguimos fazer de um
piquenique de porco no espeto, um desporto de alto risco.
Em Cesar, um concerto de música tradicional é uma coisa muito séria. Pode
haver feridos ligeiros e até graves (se as condições meteoroçógicas calharem ser
adversas).

Certa noite, meteu-se na cabeça do Abel que um dia
havíamos de
tocar uma música que ele trazia no carro e que era um espectáculo.
Após muito procurar, encontrou-a. Trouxe-a e cedo concluímos que era o solo de
bandolim mais danado que conhecíamos na música tradicional portuguesa.
Sabemos agora que há alguns ainda piores (poucos), mas
nesta altura, eram os dois andamentos musicais mais desgraçados que conhecíamos.
Portanto, ideais para quem tem a mania que gosta de coisas difíceis.
Levado o problema à consideração do grupo, foi decidido por unanimidade que o
João Pedro teria de aprender a fazer o solo já que os outros estavam velhos
demais para aventuras tão exigentes.
Rapidamente se tornou a música preferida do grupo e com ela, costumamos abrir e
fechar as nossas actuações.
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LAURINDINHA.
Cantiga tornada famosa em concerto
informal levado a cabo em terras de Arouca, mais exactamente
em Mosteirô onde, a pretexto de um delicioso arroz de cabidela, se organizou
um fenomenal arraial nocturno na eira que serve de estacionamento ao
estabelecimento que tão calorosamente acolheu a nossa função. Tendo por base um forte coro de vozes com suave acompanhamento de cordas
(cavaquinhos e violas) foi mais tarde enriquecida com a introdução de alguns
efeitos de bandolim em crescendos e diminuendos que trazem a esta bela
melodia, uma riqueza harmónica acrescida.Cantiga tornada famosa em concerto
informal levado a cabo em terras de Arouca, mais exactamente em Mosteirô
onde, a pretexto de um delicioso arroz de cabidela, se organizou um
fenomenal arraial nocturno na eira que serve de estacionamento ao
estabelecimento que tão calorosamente acolheu a nossa função. Tendo por base um forte coro de vozes com suave acompanhamento de cordas
(cavaquinhos e violas) foi mais tarde enriquecida com a introdução de alguns
efeitos de bandolim em crescendos e diminuendos que trazem a esta bela
melodia, uma riqueza harmónica acrescida.
Trazida
da Bretanha aquando das invasões francesas, a contradança encontrou no nosso
pais, um povo acolhedor e com grande vontade de mexer a perna e de esquecer as
violências e privações daquela que foi uma das guerras mais terríveis que já
assolou a Europa.
Com o nosso optimismo à prova de radiação nuclear, acabamos por conseguir
extrair alguma coisa de bom das entranhas de um dos cavaleiros do apocalipse.
Tocamo-la com grande modéstia já que não se brinca quando se imita os celtas
(aquele povo onde as crianças já nascem com um violino debaixo do queixo).
Devíamos às vinhas da região de Reguengos e Borba, esta
singela homenagem.
Destas adegas cooperativas, sai o néctar que inspira a grande criatividade
musical desta ecléctica orquestra.
Melodiasinha de bela harmonia vocal, rende às gentes alentejanas, as mesuras que
estas merecem.
Já se
impunha uma balada nesta nossa demonstração da música popular portuguesa.
Metáfora da história de um simples camponês e da sua má sorte ao apaixonar-se
por uma menina pertencente a uma classe a que ele nunca poderia aspirar.
Situações hoje ainda vulgares embora não envolvendo o desterro, necessariamente.
Uma experiência de introdução da viola campaniça numa cantiga que é típica do
norte do pais.
Uma cantiga ligeira que caiu no goto dos festeiros e acabou por tornar-se
popularizada pese embora o facto de não ser de raíz popular. É um brinquinho,
quer seja tocada devagar ou depressa. Tendo já experimentado toda uma gama de
andamentos, não é possível determinar qual é o melhor. Apresentamos aqui um
deles.
Esta sim, é uma cantiga tradicional. Embora a sua letra se tenha alterado de
verão para verão e de terr a em terra, a sua essência continua a ser o trocadilho
entre a chibinha (animal de sangue quente e voraz apetite, muito pouca esquisita
de boca e barbicha à Frank Zappa) e essoutro mamífero caprino que ataca os
foliões, pela noite, fazendo-os cantar e tropeçar no adro, na missa do dia
seguinte. Dada a sua natureza marcadamente vínica, merece aqui este nosso
rasgado elogio.
Saõ três minutos e três segundos de belo devaneio melódico sobre uma cantiga
muito simples, como o são todas as cantigas deste nosso primeiro álbum e que
permite ao grupo descansar as unhas e as gargantas, dos violentos exercícios a
que ficaram sujeitas na primeira parte deste que foi um memorável concerto.
E nem o Augusto nos deixava passar este evento sem cantar o Arregaça. Embora
com a letra limitada por ser exigido um nível mínimo de decoro, não deixa de ser
um magnífico exemplo da imaginação do nosso povo quando toca a criticar a moral
e os bons costumes. Por esta altura, em Vilarinho, já o povo de Cesar tinha
improvisado o indispensável bailarico (neste caso, levado a efeito num patamar
da escadaria com com uns dois metros por quatro, uma inclinação de 5% e um risco
de queda de 20% que, a ocorrer, levaria a vítima a parar uns dez metros e
quarenta degraus mais abaixo). Acotovelando-se, qual formigueiro aberto, estes
intrépidos dançadores, alguns dos quais sempre se encontram na fila da frente
destes nossos concertos, com um equilíbrio que qualquer escaravelho consideraria
invejável, o baile decorreu sem ocorrências lesivas para os utentes.
E eis que a desgraça bate à porta! O bandolim do João Pedro, a estrear (o
bandolim é que era a estrear, o João Pedro já estava um bocado rompido) parte
uma corda. Estendendo a vítima rapidamente por sobre uma improvisada mesa de
operações (neste caso a nosso mesa de mistura), o J.P. afadiga-se estripando a
malograda corda e preparando uma nova. Após rápida dessedentação dos restantes
membros do grupo, impunha-se manter o balho a funcionar. Era urgente inventar
uma música qualquer que não precisasse do bandolim. É aí que a inspiração ataca.
O Avô Mokka, lembrando-se do grande Xico Malheiro, do "Raízes", arranca com o
Malhão da Carvalhosa, no que foi prontamente secundado pelo Toni (que nesse dia
estava como gato com tripas) e logo foram seguidos pelo resto do bando com um
entusiasmo e perfeição que nem acreditámos no que fizemos. Até aprecia que já
tínhamos ensaiado aquilo antes. Quando o J.P. conseguiu ter a corda mudada e
afinada, juntou-se à festa com um improviso de bela efeito a demonstrar que
estas coisas do jazz já eram, muito antes de aparecerem nas Américas.
Sim, porque estas coisas da gastronomia e o Trovas à Tôa (com acento
circunflexo) andaram sempre associadas. Não sendo, por sinal, a sardinha um dos
nossos pratos mais habituais (vamos mais para o camarão), acontece muitas vezes
e por razões estritamente dietécticas, atravessarem-se-nos umas sardinhazitas
pela frente, com forte azar para asa ditas que são prestamente transformadas num
nutritivo bolo alimentar, engrossando assim a quantidade de minerais que
al imentam a nossa farta capacidade intelectual.
Agora é que se impõe prestar uma homenagem ao homem que fez das cantigas
tradicionais portuguesas de mal dizer, uma arte inimitável. Esse grande vulto da
cultura tradicional e a sua concertina artesanal, o seu modo agressivo de atacar
a melodia com um entusiasmo que fazia, muitas vezes, ouvir o estalar das teclas
por sobre o som das palhetas, o seu sotaque de Ponte-de-Lima, o seu espírito
vivo, crítico, que nunca deixou cair na vulgaridade (como alguns fizeram
depois), merece-nos a todos o maior respeito e esta sincera homenagem.
Não tendo sido gravada na ocasião, esta cantiga gravada mais tarde em evento
similar em Santa Maria da Feira, teve mesmo de ser incluída por várias razões:
É favorita do Elísio. Foi uma das primeiras cantigas organizadas que
conseguimos cantar juntos. É a nossa maneira de agraciar as senhoras presentes
nos nossos concertos, tantas vezes possíveis graças apenas aos seus dotes
culinários.
Fazemos questão de terminar como começámos. Apenas talvez um pouco mais
entusiasmados pois que o nosso suor (que bastantes vezes encharca o cabelo a
todos e a careca a um) actua como forte estimulante e transforma a parte final
destes eventos num exercício musical avassalador, bastas vezes quasi que
aterrorizante, para quem assiste a este sangrento massacre musical.
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